TEMPO DE MUDANÇA EM TRÁS-OS-MONTES
Hoje, as previsões metereológicas, para o
Distrito de Bragança, são as seguintes:
quinta-feira, 28 de Novembro de 2013
°C
8°
-2°
Humidade: 28%
Precipitação: 0%
Vento: 6 km/h
Frio, não é verdade? Mas as temperaturas de há 60 anos arás, garanto-vos que eram bem diferentes.
Frio, não é verdade? Mas as temperaturas de há 60 anos arás, garanto-vos que eram bem diferentes.
O tempo, fazendo jus às alarmantes notícias do aquecimento
global do Planeta, era bastante mais rigoroso. Embora na minha aldeia raramente
nevasse, a não ser nas terras altas, o frio era tão intenso que a água
congelava nos canos e água exposta ao relento da noite, ganhava uma camada de
gelo de alguns centímetros. A água que habitualmente corria sobre os penedos, transformava-se em formosas estalactites.
COM O FRIO AS VIDES FICAM GELADAS |
O vapor (o bafo) da nossa respiração era uma
constante nesses dias do mês de Dezembro. Nas janelas os vidros ficavam todos
baços da condensação da água atmosférica. Como sabia bem entrar na cozinha, com
a enorme lareira acesa desde manhã cedo, sempre com enormes paus que
crepitavam, lançando pequenas centelhas (faúlhas) a que ali se chamavam de “espanhóis” (talvez
resquícios antigos das gentes que ali viviam junto à fronteira, sempre
assolados pelos vizinhos do outro lado do Douro, a fronteira natural entre os
dois Estados).
Era onde todos nos sentíamos melhor, sentados nos escanos e em
pequenos bancos, mesmo em frente da lareira. As lares (corrente que descia pela
chaminé e terminava num gancho), tinham sempre pendurada por cima das chamas
uma grande caldeira com água que ia lentamente largando vapor de água que
tornava o ambiente menos seco. Além disso servia para encher as botijas de
latão ou cobre que na altura de ir para a cama serviam para nos dar algum
conforto aos pés gelados. As brasas da lareira, ao final da noite eram
despejadas num interessante aparelho semelhante a uma panela, com tampa furada
e com um longo cabo, que servia, nada mais, nada menos, que para passar a cama
a ferro antes de nos deitarmos! Como era bom entrar na cama com os lençóis
acabadinhos de aquecer!...
O ESCANO |
Lembro-me de ouvir contar uma engraçada estória,
passada nos conturbados anos da 1ª República, que vos vou tentar transmitir.
Andavam as coisas difíceis para os republicanos e
alguns desses ilustres, desculpem omitir os nomes, refugiaram-se na aldeia, em
casa da minha avó. A aldeia ficava distante de tudo, como já se aperceberam,
junto à raia, no “fim do mundo”, como era “soi” dizer-se. Era Inverno e o frio
apertava. Depois do jantar e do vinho generoso produzido lá em casa (nunca era
chamado de vinho do Porto claro está), os meus avós gentilmente perguntaram a um
dos ilustre refugiados, se desejava que a “criada”, (nesse tempo eram assim chamadas asempregadas domésticas de hoje), lhe fosse aquecer a cama!... Ora o ilustre não conhecia a técnica
do passar a cama a ferro e olhando para a “criada”, uma velha transmontana com farta
bigodaça, recusou enérgica e gentilmente a oferta. Só que nas noites seguintes, depois de
conhecer o dito aparelho para aquecer os lençóis, nunca mais recusou que lhe
aquecessem a cama!...
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